
Eugênio Bucci, escritor e jornalista, ao falar sobre o papel da televisão no Brasil, numa entrevista ao programa Milênio, em 2002, destacou que o desvio da ética nesse tipo de mídia pode derivar da vários fatores e é uma questão complexa. Segundo ele, pode ser da empresa de comunicação, ou do próprio profissional que às vezes não sabe diferençar o bom e o mau jornalismo. Faltam alternativas para os programas televisivos, principalmente aos domingos. Todos são iguais e a imoralidade é o que conta. Tudo indica, acrescentou, que lucro é para os espertos e ética é para os bobos.
Na sua opinião, o telejornalismo e as telenovelas têm um papel chave na cultura, com forte influência na identidade nacional. O primeiro, pauta a discussão popular e tornou-se o imaginário da nação. Usa o melodrama como essência de suas apresentações, transmite as notícias como forma de espetáculo e explora o emocional coletivo com informações de impacto. A segunda, tem enorme influência na conduta das pessoas, dita modas, modifica os hábitos e as culturas regionais. A televisão cresceu em importância e hoje é o maior e mais poderoso veículo de comunicação do país. Cabe, pois, ao público buscar os melhores programas escolhendo o que assistir e, quem sabe, com tal procedimento, possa definir o mercado televisivo e os valores morais voltem a ter importância.
Milhões de pessoas ainda são controladas pela televisão, particularmente pela TV Globo, a qual consolidou o seu poder e a sua crescente influência sobre a opinião pública, evidenciando o enorme domínio da comunicação de massa na conduta da sociedade brasileira. Desde a sua inauguração, em 1965, a emissora notabilizou-se por um significativo monopólio de audiência, resultado do padrão Globo de qualidade, sempre direcionando a sua produção cultural para um público fiel e habituado a assistir à TV em família, razão por que os seus organizadores deveriam ter mais prudência com o que transmitem.

O excesso de violência, os humorísticos apelativos, e a falta de cuidado com os enredos das telenovelas tomaram conta da sua programação, jogando por terra tudo o que se esperava de uma emissora líder de audiência, que sempre se destacou das demais exatamente pelo desvelo que tinha com o seu público cativo - que ainda se mantém fiel aos apelos do plim-plim. A sua hegemonia continua, mas com forte tendência de queda devido - além da imoderação dos programas - ao advento da internet, dos canais fechados e das outras televisões concorrentes, como observam Silvia H.S. Borelli e Gabriel Priolli.
A série humorística A Grande Família, com um humor sem apelações, sem as piadas grosseiras dos programas similares, ganha a preferência do telespectador, como afirma Ricardo Valladares (revista Veja, edição 1807). A evidência está no disparo da preferência popular e no índice de audiência dessa nova onda que tomou conta da telinha, numa clara demonstração que o povo não gosta dos baixos níveis dos programas apresentados atualmente. Quem sabe, não seja um forte indicador para os executivos da TV Globo repensarem a mediocridade da produção cultural da emissora e devolverem ao público o direito de poder assistir à televisão em família, sem constrangimentos?
Ainda está muita viva no imaginário popular a falta de liberdade de expressão que vigorou de 1964 a 1985 - tempos da ditadura militar -, em cujo período a televisão cresceu em importância como instituição, da qual os presidentes militares se valeram para manipular a opinião pública de acordo com os seus interesses, barganhar apoios políticos e para oprimir os que lhes faziam oposição.Talvez por isso a palavra censura tornou-se execrada entre os brasileiros. Que se crie então um meio qualquer que possibilite rever as regras de produção das baixarias que tomaram conta de todos os horários da televisão no país, e se confira a tal procedimento poderes para impedir esses entulhos descerem goela abaixo da população sob o argumento de que O Brasil é um país democrático, onde tudo é permitido, inclusive confundir o real significado de democracia e liberdade.
Luiz Carlos Santos Lopes
Ética na TV